quarta-feira, 3 de outubro de 2012

1o. Recital do Espaço Cultural Nise da Silveira


Na noite de ontem foi inaugurado oficialmente, no Icep Nise da Silveira localizado no bairro do Rio Vermelho, o Espaço Cultural Nise da Silveira que pretende ser um local de diálogo entre estudiosos das diversas áreas do conhecimento.  Como preconizava a médica que o inspirou e dá nome, trata-se de um espaço de convivência, estudo e pesquisa que visa contribuir para a saúde dos cidadãos em geral e para as pessoas em estado de sofrimento mental de um modo particular. A abertura se iniciou com a exposição fotográfica de título "mulher (es)" de autoria de Paulo Coqueiro na qual 15 mulheres foram retratadas em dois momentos (antes e depois de um trabalho sobre autoimagem  e bem estar emocional), seguida por  uma mesa redonda tendo Cidadania como tema com a participação da psiquiatra Denise Stefan , da advogada Ana Paula e o engenheiro Osvaldo Campos. Logo depois, houve um coquetel com arte no qual Vera Passos apresentou um pequeno recital com poemas* de mulheres brasileiras da atualidade e a contadora de histórias, Zidi Brandão, realizou o seu solo. O auditório estava repleto e o evento cumpriu o objetivo de comemorar os 15 anos de atividades do Instituto de Convivência, Estudo e Pesquisa Nise da Silveira.

A grosso modo podemos dizer que as poesias versam sobre: o mistério da mulher, a mulher e seus problemas, a mulher em transformação buscando a própria identidade, a mulher que se aceita e acolhe, a realização da mulher em todas as fases de sua vida e um registro das mulheres que habitam cada mulher.

Os poemas foram transcritos abaixo:

A ESFINGE
Myriam Fraga

Revesti-me de mistério
Por ser frágil,
Pois bem sei que decifrar-me
É destruir-me.

No fundo, não me importa
O enigma que proponho.

Por ser mulher e pássaro
E leoa,
Tendo forjado em aço
As minhas garras,
É que se espantam
E se apavoram.

Não me exalto
Sei que virá o dia das respostas
E profetizo-me clara e desarmada.

E por saber que a morte
É a última chave,
Adivinho-me nas vítimas que estraçalho.

Fonte: FRAGA, Myriam Poesia Reunida Salvador, Academia de Letras da Bahia, 2008


CONSELHO
Karina Rabinovitz

não adianta, moça,
ficar assim tão cabisbaixa,
cultivar pensamentos tão esquisitos,

cada hora uma dor
e uma culpa e um medo;
a vida são mesmo esses conflitos.
deixe o ego e o drama de lado,
não estacione nas caretas.
o mundo é dos elefantes
e das borboletas.

Fonte: RABINOVITZ, Karina  Livro do Quase Invisível. Salvador, Cartas Baiana – P55 Edições, 2010

AULA DE DESENHO
Maria Esther Maciel

Estou lá onde me invento e me faço:
De giz é meu traço. De aço, o papel.
Esboço uma face a régua e compasso:
É falsa. Desfaço o que fiz. 
Retraço o retrato. Evoco o abstrato
Faço da sombra minha raiz.
Farta de mim, afasto-me
e constato: na arte ou na vida, 
em carne, osso, lápis ou giz
onde estou não é sempre
e o que sou é por um triz.

Fonte: MACIEL, Maria Esther , Triz Minas Gerais


ADOÇÃO
Elisa Lucinda

Não sei se te contei
mas há algum tempo sou minha
me adquiri num mercado
onde o escambo era da posse pela liberdade
me obtive numa dessas voltas da morte
me acolhi num desses retornos do inferno.
Dei banho, abrigo, roupas, amor enfim.
Adotei o meu mim
Como quem se demarca e crava em si o mastro de terra à vista
A cheiro, a tato, a paladar e ouvido.

Não sei se te contei
me recebi à porta da minha casa
Abracei, mandei sentar
Abracei eu mesma, destranquei a porta
que é preu sempre poder voltar.
Dei apenas o céu à sua legítima gaivota
Somos a sociedade
e ao mesmo tempo a cota

Visita e anfitriã
moram agora num mesmo elemento
juntas se ancoram
Na viagem das eras
No novelo do umbigo
No embrião do centro
No colo do tempo.

Fonte: LUCINDA, Elisa  O Semelhante, Rio de Janeiro, Ed. Record, 2000


Martha Medeiros

"Quando chegar aos 30
serei uma mulher de verdade
nem Amélia num ninguém
um belo futuro pela frente
e um pouco mais de calma talvez

e quando chegar aos 50
serei livre, linda e forte
terei gente boa ao lado
saberei um pouco mais do amor
e da vida quem sabe

e quando chegar aos 90
já sem força, sem futuro, sem idade
vou fazer uma festa de prazer
convidar todos que amei
Registrar tudo que sei
e morrer de saudade."

Fonte: MEDEIROS, Martha  Poesia Reunida,  Porto Alegre, L&PM, 1999


A FOTOGRAFIA
                     Ângela Vilma
                     
Sentada na cadeira
As pernas cruzadas
Mãos pousadas na saia.

A blusa preta escondendo
A verdade da fotografia:
Era vermelha, ela sabia.

Ela sabia de tanta coisa!
(e nem sequer imaginava)
Seu sorriso acompanhava
O ritual da fotografia.

 Fonte: VILMA, Ângela Poemas para Antônio Salvador, Cartas Baiana – P55 Edições, 2010



2 comentários:

  1. Lindas poesias...no próximo recital eu não poderei perder jamamais!

    Sucesso sempre, Veroka!

    Bjs

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    Respostas
    1. Déa, fizemos o nosso mais novo recital neste domingo na Saraiva do Salvador Shopping e vamos repeti-lo no final do mês. Fique ligada no nosso blog que vc será informada. O endereço é:
      http://poesiavivassa.blogspot.com.br
      Bjs mil,

      Excluir

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